January 28, 2011

Olhares


Vai e olha pra ele como se fosse a última vez de tantas. Vê que naqueles olhos tão inspiradores que tem tudo, ainda falta algo. E essa falta que te completa ou, talvez, só a curiosidade de saber o é de fato essa falta. Por isso vai e olha e olha e olha de novo... Observa calmamente e depois sai, pensa e volta a pôr os olhos novamente, porque na verdade não há nenhum motivo que te faça voltar a repetir os mesmos atos, mas assim o faz como se não tivesse uma vida toda atribulada pra cuidar. Até que sem que tu percebeste ele já presta atenção agora. Já deu na vista. O choque de olhares aconteceu e você recebe uma descarga de realidade até que tuas bochechas ficam coradas. Ele te dá um sorriso amistoso de canto de boca e você quase que sem reação esboça um sorrisinho tímido.

E depois saiu e só voltou na tarde seguinte para a mesma cadeira de mesa de canto da livraria esperando aqueles olhos voltarem para de novo encontrar-se com os teus. E surpresa! Eles não foram nem hoje, nem amanhã e nem depois. E depois quem não foi foi você. Relutou em passar a tarde sem ler mais um clássico literário do romantismo brasileiro para não ver que a segunda mesa na frente da sua, alinhada ligeiramente à direita, esteja vazia dos olhos magnificamente focados num livro de suspense. Três dias com a ausência dele e depois a sua ausência orgulhosa. E no quinto dia retornou, colocando na cabeça que ia focar apenas no livro independente de que olhos sentariam na segunda mesa à direita.
E foi e conseguiu, duas horas imersa num livro literário da fase romântica de Machado de Assis. E na hora de falar com o atendente deu de cara com aqueles olhos hipnóticos no balcão e logo depois viu o real dono aqueles olhos ou, devo dizer, a dona?
Incrédula por ter fantasiado tanto sai da livraria e promete deixar de ler livros românticos, agora aposta confiante na fase realista de Machado de Assis. Afinal, realismo nunca é demais...

1 comment:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...